segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Antes de Tubarão

Spielberg era mais que um nerd. Era um mala, só que bem espertinho. Depois de Tubarão, Hollywood virou uma mar de blockbusters e as águas da contracultura secaram. Ao lado de Lucas, eram os nerds, os caretas - e aqueles que vingariam. A década de ouro virou ferrugem. Enquanto O Poderoso Chefão e O Exorcista faturaram seus 80 milhões e coisa, Tubarão faturou quase 130 milhões de bilheteria. E aí fodeu.
Foi quando também entrou a televisão no esquema, antes vista como uma mídia rival. Mas os executivos experimentaram a divulgação da telona na telinha e descobriram o pulo do gato. As resenhas em jornais impressos, que já não tinham o mesmo poder de antes, tornaram-se irrelevantes. Pauline Kael que o diga. E a partir daí um filme jamais teria de novo a chance de evoluir gradualmente, de atrair de forma crescente seu público natural. A cultura polaroid: se o sucesso não for instantâneo, é fracasso.
Ainda falta 1/4 do livro, mas estou muito entusiasmada com a leitura de Como a geração sexo, drogas e rock'n'roll salvou hollywood. Um livrão de 400 páginas que tem me acompanhado em viagens e noites de ócio desde novembro, graças ao empréstimo de um amigo querido. Viramos o ano juntos, eu e diretores como Scorcese, De Palma, Hopper, Copolla, Altman, Friedkin e outros mais ou menos rebeldes. Pena que era a virada de 2011 pra 2012 e não de 1971 pra 1972.
Imagina um cara cabeludo e barbudo, maconheiro, abaixo dos 30 anos, diretor iniciante encurralar um executivo de estúdio e sair de lá com 1 milhão só no grito? E aí o cara leva a grana pra uma locação bem longe e volta com rolos de filme incompreensíveis? Então, era isso o que acontecia.
O trinfo da cara-de-pau e, também, do pau. Porque por mais que todos fossem um tanto hippies, eram todos ambiciosos e egóicos. O auteur era o deus cultuado. Mas, ainda assim, eram celebridades diferentes das que vemos hoje, era outro estilo de vida.
Era uma vida mais cheia de inspiração e ousadia.

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