terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Garota, eu vou pra Californication

Friends nove fora zero, e novos quocientes aos seriados americanos. Esqueçam as risadas e palmas gravadas ou os personagens queridinhos. Num episódio de Everybody Hates Chris, no qual o protagonista (um garoto fodido do Brooklin) risca um disco da mãe, o jingle que encerra é tocado como se também fosse um disco riscado. Num episódio de Dexter, no qual o protagonista (um serial killer de Miami) está casado e tem um filho, a abertura é refeita de modo que o galã psicopata se torna um pai estafado. E num episódio de Boston Legal, no qual um advogado (com Síndrome de Asperger que tentou cortar a garganta da sócia-majoritária) é recontratado (pela mesma), temos a abertura instrumental "cantada" por este personagem. Ainda em Boston Legal, na bancada de Denny Crane (o típico republicano-milionário-sem-noção), temos os dois protagonistas comentando como sentiram a falta um do outro naquele episódio ou quais expectativas eles tem pra próxima temporada. For the record: foram 6.


Para além da metalinguagem, tais recursos tem um sentido aplicado, traduzem a contemporaneidade: qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Personagens engraçados e politicamente corretos ou padronizados, aparentemente, não é mais a tendência. Criticamos muito os enlatados de Hollywood, mas, convenhamos: a TV americana anda mais ousada que a nossa. Desde os tempos da TV Pirata, a única coisa que eu assisti e consegui provar aquele velho e bom humor negro foi os Aspones: uma série que, infelizmente, teve apenas uma temporada. Nem vou comentar as novelas porque não teria propriedade pra isso, mas, quem matou Heleninha Roitman?


Os ufanistas verde-amarelo que me perdoem. Hoje é dia de Maria e A Pedra do Reino são sensacionais, mas a verdade é que foi A vida como ela é... a obra que assisti completa (sem pregar os olhos). O que querem as mulheres? ou Amor em Quatro Atos são trabalhos muito bem produzidos, narrativas bem pensadas, só que sempre me encanta como um estrogonofe e não me arrebata como uma feijoada. Eu fico pensando. 

É mais fácil o Tiririca se tornar presidente que acabarmos com as novelas. No entanto, entre o circo e o palácio, não tem alguma coisa pra explorar no meio?

Na segunda-feira estreou a quarta temporada de Californication. Ao primeiro olhar, essa série parece ser só um amontoado de putarias. Mas nada que dois ou três episódios à frente não revoguem. Qualquer um que já tenha lido (e curtido) Charles Bukowski corre o risco de se apegar ao seriado. Hank é o nosso protagonista aqui, um escritor alcoólatra em plena crise existencial que tem três grandes talentos: escrever romances, enfiar os pés pelas mãos e arranjar com quem trepar. Eu prefiro esperar as temporadas acabarem e ver todos os episódios de uma vez, mas tratando-se do Hank, eu tive que abrir as pernas e  assistir ao primeiro episódio. Sem arrependimento.


Porque desde que o Angeli matou a Rê Bordosa, eu me sinto um tanto orfã. É claro que eu preferiria apenas ligar a TV a fazer trocentos downloads. Porém, não cabe a mim levar o underground ao mainstream. Enquanto não rola a antropofagia digital, eu vou de pirataria cibernética. Uma mulher há de ter estilo nesse século 21. Se a Amy está grávida ou não pra ter feito os shows no Brasil à base de água, ela pelo menos pagou peitinho em Santa Tereza: quem é rei nunca perde a cafajestagem. Thanks god for Showtime.



“Estou tendo uma ereção. Isso é um bom sinal. Que o julgamento comece.
 Estou pronto” - Denny Crane.